De Elisa Lucinda
Mulata Exportação
“Mas que nega linda
E de olho verde ainda Olho de veneno e açúcar! Vem nega, vem ser minha desculpa Vem que aqui dentro ainda te cabe Vem ser meu álibi, minha bela conduta Vem, nega exportação, vem meu pão de açúcar! (Monto casa procê mas ninguém pode saber, entendeu meu dendê?) Minha tonteira minha história contundida Minha memória confundida, meu futebol, entendeu meu gelol? Rebola bem meu bem-querer, sou seu improviso, seu karaoquê; Vem nega, sem eu ter que fazer nada. Vem sem ter que me mexer Em mim tu esqueces tarefas, favelas, senzalas, nada mais vai doer. Sinto cheiro docê, meu maculelê, vem nega, me ama, me colore Vem ser meu folclore, vem ser minha tese sobre nego malê. Vem, nega, vem me arrasar, depois te levo pra gente sambar.” Imaginem: Ouvi tudo isso sem calma e sem dor. Já preso esse ex-feitor, eu disse: “Seu delegado...” E o delegado piscou. Falei com o juiz, o juiz se insinuou e decretou pequena pena com cela especial por ser esse branco intelectual... Eu disse: “Seu Juiz, não adianta! Opressão, Barbaridade, Genocídio nada disso se cura trepando com uma escura!” Ó minha máxima lei, deixai de asneira Não vai ser um branco mal resolvido que vai libertar uma negra:
Esse branco ardido está fadado
porque não é com lábia de pseudo-oprimido que vai aliviar seu passado. Olha aqui meu senhor: Eu me lembro da senzala e tu te lembras da Casa-Grande e vamos juntos escrever sinceramente outra história Digo, repito e não minto: Vamos passar essa verdade a limpo porque não é dançando samba que eu te redimo ou te acredito: Vê se te afasta, não invista, não insista! Meu nojo! Meu engodo cultural! Minha lavagem de lata!
Porque deixar de ser racista, meu amor,
não é comer uma mulata!
(Da série “Brasil, meu espartilho”)
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Grupo de Estudos Sobre Raça e Ações Afirmativas
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quinta-feira, 26 de julho de 2012
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